sábado, 20 de novembro de 2010


Nosso grupo teve a oportunidade de visitar o Instituto Benjamin Constant (IBC) a fim de conhecer um pouco mais sobre o cotidiano das pessoas deficientes visuais e esclarecer algumas dúvidas sobre o assunto. Conversamos com a atual Assessora de Direção Geral, senhora Eucy, e ela cedeu um pouco de seu tempo para responder as perguntas abaixo.
Cefet: Como nasceu a idéia da fundação do Instituto?
Eucy: O Instituto foi fundado em 1854. Foi a primeira instituição a se preocupar com a deficiência visual na América Latina. Tudo começou com um brasileiro cego, José Álvares de Azevedo, que foi mandado por sua família à França para estudar em uma escola especializada, assim como o instituto. Assim que José concluiu o curso ele retorna ao Rio de Janeiro, que na época era cede do império, e começa a ensinar varias pessoas tudo aquilo que ele aprendeu. Até que ele começa a ensinar o sistema Braille para uma menina cega, filha do médico de D. Pedro II. O médico, quando viu que era possível um cego estudar e aprender como outra pessoa qualquer, ficou maravilhado e levou essa idéia para o Imperador. D. Pedro II, então, quis conhecer o jovem José e acabou por comprar essa idéia e fundar o Instituto. Assim o instituto foi fundado em 17 de setembro de 1854, porém José Álvares não sobreviveu para ver a obra pronta. Ele primeiramente nasceu no bairro da Saúde, mas o espaço se tornou pequeno, então ele migrou para o Campo de Santana, contudo a casa foi ficando velha e foram construir aqui na Urca, onde estamos até hoje.
Cefet: Como o Instituto Benjamin Constant atua na educação de crianças cegas?
Eucy: Nós atendemos desde bebês, na educação infantil, até adultos. Para crianças, nos possuímos uma escola comum que vai desde a alfabetização até o 9º ano, ou melhor, não temos o ensino médio. Há crianças que chegam aqui muito tarde por vários motivos, dentre ele podemos citar o desconhecimento do instituto por parte dos pais, a idéia de que uma criança cega não poderia freqüentar uma escola e a residência numa cidade do interior o que dificultava o acesso a escola. Por esses e outros motivos nós aceitamos qualquer idade na classe de alfabetização.
Cefet: Como funciona o sistema de internato?
Eucy:  No início, como não havia outra instituição para cegos no Brasil, jovens de todo o país vinham para cá e ficavam internos, só indo para casa nas férias. Esse sistema mudou a alguns anos. Ainda recebemos crianças de todos os estados, porém eles têm que ter uma família responsável aqui no Rio. Tudo porque o sistema de internato é de segunda de manha até sexta na hora do almoço, sem funcionamento nos finais de semana. O internato atende, primordialmente, pessoas que moram em lugares muito distantes, como na baixada ou São Gonçalo, e não têm como voltar para casa todos os dias. Os bebês da educação infantil não têm direito ao alojamento.
Cefet: O instituto oferece cursos de capacitação para as pessoas poderem aprender a lidar com a deficiência do próximo?
Eucy:  Sim, disponibilizamos um curso de qualificação profissional de 600 horas, de agosto a dezembro em horário integral, para adultos que queiram aprender. Os alunos desses cursos também podem usufruir do alojamento, já que a sua maioria vem de outros estados. Esses alunos, ao voltarem para sua terra natal, se tornam instrumento multiplicador do conhecimento adquirido, ensinando outros a trabalharem da forma que aprenderam aqui no Instituto. Ano que vem, provavelmente, esse curso deverá se transformar em pós-graduação.
Cefet: Quais os cursos oferecidos aqui capacitam jovens para o mercado de trabalho?
Eucy:  Nós oferecemos cursos ligados a área de saúde, no CTA (Centro de Terapias Alternativas), porém a pessoa precisa do ensino fundamental completo para se matricular. A maioria é de cursos ligados a massoterapia.
Cefet:  Em todos esses anos de trabalho, qual a principal mudança em sua vida?
Eucy:  A mudança não ocorreu aqui, na verdade ocorreram mudanças e por essa razão eu vim para trabalhar aqui. Eu era fonoaudióloga na secretaria municipal de saúde, trabalhava no Instituto Oscar Clark. Lá eu descobri o trabalho de reabilitação com o deficiente visual e me apaixonei por ele, porém eu não tinha experiência nenhuma, nunca tinha sequer ajudado um cego a atravessar a rua por falta de oportunidade. Então fui buscar um curso sobre o assunto e vim parar aqui. Fiz um curso aqui, que na época era de 450 horas. Quando conclui comecei a trabalhar com deficiente visual lá no Oscar Clark na reabilitação. Assim que abriram um concurso aqui eu fiz e passei, e como eu havia adquirido experiência no trabalho com adultos eu só trabalhei com os mesmos ate hoje.

Cefet: Existe, no Brasil, uma preocupação em criar mecanismos facilitadores para pessoas deficientes?
Eucy:  Existem leis municipais, estaduais, federais sobre acessibilidade. Um exemplo é a lei que diz que as novas construções devem ter mecanismos facilitadores para os deficientes, nas antigas existe um prazo para que elas façam suas obras. O que falta no Brasil é cobrança para a execução das leis, não a lei em si. Fora que todas as escolas deveriam ter pessoas que dominassem o atendimento educacional ao deficiente visual, ao mental e ao auditivo, porque querendo ou não são técnicas diferentes que devem ser utilizadas para essas deficiências.
Cefet:  As obras existentes atendem os deficientes de todas as classes sociais?
Eucy:   Aqui no Instituto sim, nós não vemos classes sociais já que os serviços são todos gratuitos. Sendo assim, todo o mundo tem direito a todos os recursos disponíveis aqui.
Cefet: Há concursos específicos para facilitar a inserção do deficiente na sociedade?
Eucy:  Todo o concurso tem cotas para os deficientes, mas não especificam a deficiência do candidato. Portanto as vagas são para todos os tipos de deficiência. No caso da visual eles podem escolher se preferem fazer a prova em Braille, ampliada ou com ledor. O candidato que diz quanto tempo de ele precisará a mais para fazer a prova, podendo se estender a, no máximo, uma hora.
Cefet:  Quantos deficientes, em média, terminam o 2º grau e o ensino superior?
Eucy:  Reconhecemos que não são todos, mas não existe um percentual preciso de quantos terminam ou não. Acredito que cerca de 80% dos deficientes concluem o ensino médio, porém, em se tratando de universidade, o número reduz drasticamente.
Cefet: Em sua opinião, a sociedade está psicologicamente preparada para lidar com a deficiência do próximo?
Eucy:  O problema da sociedade não é lidar com a deficiência em si, ela não esta preparada para lidar com as minorias. Se eu perguntasse para vocês o que vocês pensam do índio vocês provavelmente iriam responder que não fazem a mínima idéia, pois não têm contato. Talvez, o único contato se dá através de filmes, documentários, etc. Nós temos a tendência de não procurar entender as minorias, simplesmente pelo fato delas não fazerem parte do nosso cotidiano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário